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Showing posts from December, 2018

Morte, tempo e memória : 1 ( apêndice ao Dicionário da derrota)

O título é pesado, mas haja alegria; como escreveu  o Pessoa, hoje o almoço é amanhã. As três categorias dançam juntas tantas vezes que também  isso aqui será inevitável, mas por vezes actuarão sozinhas.  Desde o tempo da publicação do Educação  para  a morte ( Bertrand 2008)   que fui ficando ainda mais enredado no estudo das perdas. A prática  clínica como psicólogo favorece a teia porque estou sempre mais atento a casos que envolvam  este mato. A minha história pessoal ,  a morte de um filho em 1998, deu-me o doutoramento:  tão  útil quanto desnecessário. O tempo e  a memória existem, claro, fora  das perdas...físicas.  Assumo uma base: só perdemos o que era  bom, por isso tempo e memória serão ( quase) sempre  tratados aqui com  a nostalgia numa mão e a lente na  noutra. Pelo meio, as imprescindíveis  ferramentas da subversão.

Dicionário da derrota

B Baderna ( s.f.) Associo sempre esta palavra  a economia. Até ir à tropa,  nunca me tinha interessado por finanças ou gestão. Depois de lá ter estado, constrangido,  ano meio, compreendi perfeitamente o que significa o desperdício  pornográfico de recursos. Toneladas de roupa e comida, milhões de euros ( contos na altura) em ordenados, contas astronómicas de electricidade, gasóleo etc. E para quê? para nada. Rigorosamente nada excepto a manutenção de uma classe profissional. A baderna era o que o sargento Santos dizia que não queria. Eu fui sempre bom na baderna. Chegar atrasado  à formação para ordem unida, não respeitar o horário de recolher o quartel e por aí fora. Mais tarde, como oficial, a baderna continuou a acompanhar-me como fradilqueira na destoca de coelhos. Fiz o possível para corromper o serviço que chefiava. Fui o único que não recebeu louvor. Temos, portanto, que  baderna significa serviço militar obrigatório.