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Morte, tempo e memória : 1 ( apêndice ao Dicionário da derrota)

O título é pesado, mas haja alegria; como escreveu  o Pessoa, hoje o almoço é amanhã. As três categorias dançam juntas tantas vezes que também  isso aqui será inevitável, mas por vezes actuarão sozinhas. 

Desde o tempo da publicação do Educação  para  a morte ( Bertrand 2008)  que fui ficando ainda mais enredado no estudo das perdas. A prática  clínica como psicólogo favorece a teia porque estou sempre mais atento a casos que envolvam  este mato. A minha história pessoal ,  a morte de um filho em 1998, deu-me o doutoramento:  tão  útil quanto desnecessário.
O tempo e  a memória existem, claro, fora  das perdas...físicas.  Assumo uma base: só perdemos o que era  bom, por isso tempo e memória serão ( quase) sempre  tratados aqui com  a nostalgia numa mão e a lente na  noutra. Pelo meio, as imprescindíveis  ferramentas da subversão.

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