Depois da excitação sasonal, o assunto da morte de mulheres vai voltar ao remanso. Quando publiquei o livro pude estender o lençol, mas o registo pseudo-literário evitou algumas notas. Agora posso pôr a colcha.
Na minha actividade profissional encontro amiúde o início do processo. Mais: encontro até processos que não chegam a ser. Duas correntes: a necessidade assumida que muitas mulheres têm hoje de uma vida amorosa plena e a estupidificação dos maridos/companheiros/namorados diante dessa necessidade.
Se a esmagadora maioria da violência sobre elas tem a ver com ciúme e posse, temos de examinar a evolução das relações amorosas. O João foca-se aqui na saudade dos velhos mecanismos da solidariedade mecânica, como Durkheim a definiu, mas eles morreram bem antes do surto actual. Falando simples: se elas amochassem como amochavam há 40 anos ( não é preciso ir à sociologia do século XIX), muitos destes crimes não ocorriam hoje.
A posse, a ilusão de uma garantia sobre o corpo do outro, se enraiza os crimes, também estabelece a deterioração do caso amoroso. Quantas vezes, com os casais à minha frente, não as ouvi dizer: "Ele só é querido para mim quando vamos para a cama" ? A ideia de que o caso amoroso é secundário ao trabalho, às divídas, à caça, aos copos, seja ao que for, é natural para eles: afinal, elas ( já) são deles, tudo o resto dá trabalho.
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