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Showing posts from October, 2018

Dicionário da derrota

A Amar ( v.t.) Uma perda de tempo. Todos os amores acabam. Numa autoestrada, num aeroporto, numa unidade de cuidados continuados, numa  sms. São bons enquanto duram? Sim,  como um corneto. Da Olá. Conheci no outro dia um casal de velhotes casados há 67 anos. Agora passam os dias  a discutir quem está mais xexé.  Sempre fica alguma coisa do amor. Tive de arbitrar a disputa.  Disse-lhes que estão ambos óptimos. Menti. Em Roma sê romano.

Dicionário da derrota

A Adicto ( a. e s.m.) Os franceses  têm ( tinham...)  uma palavra mais bonita: penchan . Briot traduziu para francês um livrinho do secretário do conde de Winchelsey, embaixador de CarlosII de Inglaterra, sobre o estado do império Otomano. Lá estava o penchan dos turcos : fervem composições  com ópio, o que muito contribui para divertir e alegrar o espírito . Viciado também é um bom termo, mas, como se vê, retira a carga suave da anotação sobre os costumes turcos. Seja como for, as adições mais discretas são as que nos interessam aqui: não os vemos falidos e doentes, mas são tão secretas que não têm cura.

Dicionário da derrota

A Afecto ( s.m., adj.) Olàlà ... como dizem os  francius. E aquela  dos afectos serem irracionais? Bem, quando vejo cães de boné   e laço  a comer à mesa dos donos  quase descaio. Depois recupero. O  latim assegura que é o particípio passado  de afficere , fazer alguma coisa. Assim já chegamos a algum lado. É uma tarefa para espíritos fortes. E é um estado mental propício à derrota, como já adivinharam. Perdemos o afecto de alguém ou por alguém. Vai dar ao mesmo. Se é um estado mental, é transitório. A derrota, essa é definitiva.

Dicionário da derrota

A Adiar ( v.t.) A metafísica dos chocolates é imbatível . E acrescenta  esse grande derrotado, o  Álvaro ( o  Campos): ao tirar o papel  ( dos chocolate)  deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida . É uma síntese  estelífera. De cada vez que temos uma coisa nunca  a temos e começa tudo de novo. Julgavam que  ia pela arte da cavilação? Do demorar seis meses a trocar a lampâda fundida? Não. Adiar não é preguiça ( terá a sua entrada). Adiar é viver como se o futuro fosse o passado.

Dicionário da Derrota

A Acordo ( s.m. do v. acordar): Combina muito bem com desacordar. Em todo o acordo existe a ilusão de uma vitória para ambas as partes, mas na verdade há sempre  a derrota  de uma. Chamam-lhe cedência. Muito comum nos divórcios, mais nas mulheres que me costumam dizer: para não o aturar mais assinei aquela porcaria . Houve, entre outros,  um acordo famoso: mostra como mesmo que ambas as partes ganhem, alguém perde. O Sykes-Picot ( Maio de 1916)  traçou uma linha entre Acra e Kirkuk: a norte para  a França, a sul para a Inglaterra. Perderam os árabes aos quais foi prometida autodeterminação. Receberam  novos senhores imperiais que substituíram os antigos, os  turcos. Quando acordamos do acordo, perdemos.

Dicionário da derrota

A Abnegar ( v.t e i.) Um dicionário colega  arruma-o ao lado de  desambição ( s.f.), mas essa terá entrada própria. Vamos para o significado  comum: recusar. F ulano de tal, abnegado, recusou o cargo que lhe ofereciam . Talvez porque soubesse de uma qualquer investigação   a caminho, talvez por orgulho ou consciência das suas limitações. A emulsão entre  a recusa obstinada e o desprendimento é, no entanto, muitas vezes mais fria e  deslaçada.  O derrotado não está para se chatear. Recusamos porque não nos apetece e ficamos o resto da  vida  a pensar no que poderíamos ter conseguido.

Dicionário da derrota

A Abalar ( v.t.) Entre a comoção e  a partida, é um assunto caro aos derrotados. O zénite atinge-se quando somos abalados e vamos embora. Podíamos ficar e resistir, lutar  e essas coisas todas revolucionárias, mas não somos dados à astrologia. A maior parte das vezes,  é  a verdade que nos abala e faz sair de cena. Quando compreendemos que o outro já não nos liga pevide. Olá, está-se bem e tal , mas centelha nicles. Noutras ocasiões, a verdade é uma passageira atrasada. Soubemos sempre que viria. Ou pela genética ou pelos maus hábitos.

Loucoterapia ( 5)

Convidado especial, Tiago Gonçalves:

Loucoterapia ( 4)

Estou a discutir a pensão de alimentos  aos golden retriever. A minha ex faz-me  a vida negra. A Joly e o David não merecem isto. Que mundo é este? Um mundo cão. Desculpa  a piada, sim, tens razão,  aonde é que isto vai parar?  O que importa é não projectarem o divórcios nos cães.  Vigiem o percurso escolar deles,  a socialização com amiguinhos da escola ou da vizinhança, enfim, monitorizem o seu desenvolvimento psicossocial.  Expliquem-lhes que os papás continuarão a amá-los para sempre ou, pelo menos, até à eutanásia no veterinário.

O Orçamento e a lição púnica

No intervalo entre  a primeira e  segunda  guerra púnica, Cartago deparou-se com a rebelião dos mercenários. Começou na Sicília, estendeu-se aos assalariados líbios  Os mercenários queriam ser pagos, bem pagos ( o prometido) e sem mais delongas.  O Estado central, orgulhoso, não sabe bem porquê, de ter sobrevivido ao primeiro embate  com Roma, descuidou-se. Talvez porque tiveram de pagar a paz com condições duríssimas, os cartagineses pensaram que os andrajosos mercenários teriam de se contentar com o que sobrasse. Foi uma dura lição. Um Estado deve sempre ter especial cuidado com a sua base de apoio. Durante a WWII, umas das pouquíssimas coisas  não racionadas em Inglaterra foi o fish & chips . A  base de apoio do governo  é a função pública, porque é o único grupo  de eleitores cujas  vidas pode afectar rápida  e directamente. Pensionistas, professores, enfermeiros, médicos, sentem de imediato o efeito da política governamental:  para o bem e para o mal.  Convém recordar

Loucoterapia ( 3)

Ó pá nem sei bem, não me apetece estudar, mas também não encontro uma cena  que me realize ". Compreendo. Tenho o dobro da tua idade e ainda não encontrei cenas que me realizem. Quer dizer, até encontro, mas não posso viver delas. O minha vocação  era ser assaltante de bancos  e ourivesarias e cenas assim. Sem violência,  classy. Seis meses de papo para o ar, outros seis  a preparar novo golpe. Olha, entretanto vai ver se há vagas na Pizza Hut. Tenho mais pessoas para atender.

Dois casos, duas medidas

Dois casos de abuso sexual e violação de direitos. Duas decisões judiciais.  Uma  abre telejornais,  enche crónicas e navega os media respeitáveis .  A outra  só  aparece no Correio da Manha ( aqui via pressreader) e ninguém  do sistema  mediático comentou. 1) O argumento do populismo justicialista Não se deve dar notícias  como a do pedófilo porque excitará a populaça. É interessante quando  pomos as duas notícias no  mesmo patamar: seres indefesos vítimas de gente violenta. O argumento é o de esconder ( excepto o CM)  a realidade por causa de uma previsão. Pode ser uma boa intenção, mas as crianças são usadas por uma teoria social: não há linchamento de pedófilos, há é centenas de crianças abusadas todos os anos. 2) O argumento da excepcionaliddae O caso do pedófilo é raro, não deve ser sobrevalorizado. A  brandura penal no caso da mulher  inconsciente violada na WC também é raro. A diferença esteve no tratamento:  o primeiro é censurado, o segundo foi amplamente

O único PSD bom é o PSD morto

Não é por acaso ou maldade que  os analistas de todos os media (excluindo o Observador ), desde o congresso do partido,  apuram o faro: tudo o que no PSD cheirar a Coelho é direita radical. O Observador faz de bombo da festa quando faltam novidades.  O único PSD bom é o PSD morto . A Geringonça Global ( GG) percebeu o essencial  : o português  médio já não  necessita  do actual PSD. Para contrabalançar  os excessos esquerdistas está lá o PS do negócios e da UE. O PSD de hoje faz tanta falta  como as pulgas ao cão. É por isso vital para a   GG  trumpar-bolsonar qualquer linha política no PSD que não obtenha certificado de bom comportamento. Matar no ovo a serpente  da direita radical, adaptando  o argumento do filme do  Bergman, é um óptimo suporte de propaganda. No Portugal de hoje, confortável, anestesiado e distraído , fornece o alimento digerível e suficiente. Não vai ser com os mesmos de sempre  e com o circuito da carne assada que o partido inverterá a situação e res

Loucoterapia ( 2)

O puto passa o dia agarrado ao  instagram  no telemóvel, não lê um livro, fala por monossílabos . Não consigo chegar a ele . E para  que raio queres tu chegar a alguém assim? Pertences  a algum culto, queres um rebanho? Tens um filho vulgar de Lineu, devias estar contente. Sonhaste um filhinho a quem nesta idade começarias a passar a tua mundivisão: os teus valores  ( argghhh), o teu clube, o teu blusão de juventude. Se querias um manito enganaste-te. Olha, antes o instagram do que  a droga.

Loucoterapia ( 1)

Não  consigo, não tenho ânimo, não me apetece nada . Não sei porque te queixas. É o meu estado natural. Rapara: temos de lavrar a terra, afugentar marauders, passar fome  no Inverno e sede no Verão? Pois. As nossas maiores angústias são a quantidade de likes, os quilos a mais, a velhice do gato. Vais ver que se uma neoplasia te visitar ganhas logo garra e objectivos. Eu por mim gosto assim. Não apetecer grande coisa, não esperar média coisa, temperar a açorda.

Neoliberalismo, desigualdade de género, carne e facturas.

Enfatizar a  teorização da interseccionalidade   para questionar o que pode ser pesquisado para ilustrar a interseccionalidade como experiência vivida. Por exemplo, a osteoanálise mostra que entre 771 e 221 A.C. os homens continuavam a comer milho e carne, mas esta foi desaparecendo da dieta das mulheres sendo substituída por trigo. Esta desigualdade faz supor uma pré-territorialização do que hoje podemos  definir como neoliberalismo rizomático.  Já esta é uma   infeliz cedência ao que podemos  chamar uma vectorização  temporal  da Idade do Ferro tardia ( na Cultura de La Téne por exemplo) aplicada ao modelo neoliberal  - When someone offers to pay, it usually signifies they’re genuinely interest.

Expectativas de género e male domination na higiene de crianças pequenas

 Tehel ( 2009) refere a importância do consentimento da  criança pequena  do sexo feminino antes de do  progenitor biológico do sexo masculino a ajudar na higiene no WC  vulgo, limpar os orifícios. Tendo em conta a padronização cultural do macho manipulando a genitália feminina infantil, ou seja, a inferiorização  feminina, concreta ou simbólica, num contexto de referências  higiénicas ligadas à família  tradicional, numa gender relation  subordinada à raça e  à superioridade masculina, a questão é essencial. Por seu lado, Galleana & Amundssen ( 2013) propõem que, no caso de uma família normativamente heterossexual, seja  a mulher a executar a tarefa. Isto visa prevenir, na criança  de sexo feminino,  sentimentos de admiração-subjugação pelo/ao macho cuidador, evitando a perpetuação de estereótipos  de género facilmente transponíveis para a estrutura social e organizativa.

Sá Carneiro com o Miguel Morgado

Quanto tempo dura um grande partido? Talvez apenas 43 anos . O tempo foge e não se pode andar para trás,  congresso extraordinários e outra palermadas, como escrevi no texto anterior. Como há gente que se aproveita da ignorância, apresentando Sá Carneiro como um meio-socialista, e como o PSD está, de facto, em risco de ir para  ao lote dos defuntos quarentões, o Miguel Morgado tem aqui um apoiante: "Temos de ir, como Partido,  ao encontro dos interesses e aspirações dos portugueses e não devemos  recear que nos chamem de populistas. O que é esse populismo afinal, que hoje está tão em voga e que se atira à cara daquelas figuras que sabem interpretar os interesses da pessoas? Se ser populista é realmente captar o sentido da realidade das pessoas e saber exprimir os seus anseios e as suas angústias, as suas frustraçoes e os seus desejos, então  ser populista é ser uma pessoa  verdadeiramente democrática . Não há futuro económico e social possível quando problema principal

PSD: um passo em frente, dois atrás

Lenine dizia a Nadia que preferia um peixinho a um grande escaravelho : antes quero  dois ou três homens dedicados do que uma mão cheia de ociosos. Martov exigia o reconhecimento absoluto do programa, Lenine, na altura de fora ( 1904) ,   optava por uma análise cuidadosa  dos vários grupo s . Ambos queriam o mesmo : fidelidade total. Quem não quer? A hipótese de um congresso extraordinário é estapafúrdia. Se o partido está a fazer má oposição, serão as legislativas a selar essa impressão. A TSF faz uma das quatro perguntas retóricas, no caso a epiplética: mais para repreender do que para obter uma resposta. Por exemplo: Como pudeste fazer isso? A suspeita de que não querer fazer nada agora  siginifica o desejo de ver  o  PSD enterrado é nefelibata. A autoridade de um congresso extraordinário é batida em refregas eleitorais. O contrário, com Meneses,  já  foi experimentado e o resultado foi a reeleição de Sócrates e, depois, o santo advento da  Geringonça.   André Ventura,

Talk to me, lie to me

A popular série de TV, divertida   e  simplória, contém, ainda assim, 10% de verdades sobre a linguagem corporal. Às vezes surpreendo uma primeira consulta com duas ou três conclusões apenas a partir  das expressões faciais, do olhar, dos gestos, da posição  do corpo. Depois explico que não sou vidente e a pessoa acaba por perceber quão fácil e lógico era o arquivo de deduções. O osso é a especificidade de cada caso. Uma pessoa apresentar uma linguagem corporal ansiosa não me diz nada sobre a causa, ou seja, sobre a pessoa, até começarmos a falar. Passamos,  portanto, da exibição à estrutura. É quando a pessoa mete a linguagem corporal no discurso que as coisas se tornam interessantes. O casamento ( ou a relação) está bem, mas há uma fracção de segundo em que ela olha para baixo quando diz bem . Estava em contacto visual comigo, mas nessa altura interrompe-o. É básico, mas funciona. Exige muito mais atenção - e experiência - a pessoa que vai falando sobre tudo - as coisas boas