Skip to main content

O Orçamento e a lição púnica

No intervalo entre  a primeira e  segunda  guerra púnica, Cartago deparou-se com a rebelião dos mercenários. Começou na Sicília, estendeu-se aos assalariados líbios  Os mercenários queriam ser pagos, bem pagos ( o prometido) e sem mais delongas.  O Estado central, orgulhoso, não sabe bem porquê, de ter sobrevivido ao primeiro embate  com Roma, descuidou-se. Talvez porque tiveram de pagar a paz com condições duríssimas, os cartagineses pensaram que os andrajosos mercenários teriam de se contentar com o que sobrasse. Foi uma dura lição.

Um Estado deve sempre ter especial cuidado com a sua base de apoio. Durante a WWII, umas das pouquíssimas coisas  não racionadas em Inglaterra foi o fish & chips. A  base de apoio do governo  é a função pública, porque é o único grupo  de eleitores cujas  vidas pode afectar rápida  e directamente. Pensionistas, professores, enfermeiros, médicos, sentem de imediato o efeito da política governamental:  para o bem e para o mal. 

Convém recordar que, em 2011, o PS, aflito, chamava  a Troika enquanto Passos Coelho prometia não mexer num cêntimo dos ordenados e subsídios. O colégio eleitoral fez as contas e despediu o menino de ouro. Hoje,  nesta acalmia de marés, nunca o governo se equeceria da sua base de apoio.

Comments

Popular posts from this blog

After eight

Depois da excitação sasonal, o assunto da morte de mulheres vai voltar ao remanso. Quando publiquei o livro pude estender o lençol , mas o registo pseudo-literário evitou algumas notas. Agora posso pôr a colcha. Na minha actividade profissional encontro amiúde o início do processo. Mais: encontro até processos que não chegam a ser. Duas correntes: a necessidade assumida que muitas mulheres  têm hoje de uma vida amorosa plena e a estupidificação dos maridos/companheiros/namorados diante dessa necessidade. Se a esmagadora maioria da violência sobre  elas  tem a ver com ciúme  e posse, temos de examinar a evolução das relações amorosas. O João foca-se aqui na saudade dos velhos mecanismos da solidariedade mecânica, como Durkheim a definiu, mas eles morreram bem antes do surto actual. Falando simples: se elas amochassem como amochavam há 40 anos ( não é preciso ir à sociologia do século XIX), muitos destes crimes não ocorriam hoje. A posse, a ilusão de uma garantia sobre o co

Farsas

Os três filmes sobre a luta contra  o comunismo na Polónia são polacos. Ou seja, o assunto, um dos mais importantes da vida europeia do final do século  XX, nunca interessou às grandes companhias  de Hollywood nem aos produtores, intelectuais e artistas franceses ou ingleses.    Há coerência. Também são raríssimas as incursões da  Europa ilustrada e unida contra o populismo, o fascismo e as fakes news, no quotidiano  de metade dos (actuais) europeus  sob a pata das polícias secretas, da interdição de manifestações, da proibição de livros e do encarceramento por delito de opinião. É evidente que eleger o assunto como tema de atenção significaria mostar como funcionou, na prática, o comunismo. Nos detalhes da repressão e da pobreza e não no palavreado do progresso e  da liberdade. Também havia episódios burlescos. Na Polónia as pessoas festejam o aniversário e o dia  do seu santo.  Quando era a vez de Walesa, uma espectacular pantomina desenrolava-se  diante de sua casa. Uma a u