Ele trabalhava com aviões. Rebocava-os. Talvez os lavasse à mangueirada, lhes passasse a mão nas asas, até, quiçá, falasse com eles. A primeira tentação é a da grandeur: um avião, media, redes sociais. Depois vacilamos um pedacito: um discurso amável, sem rancor contra ninguém, o desejo calmo de despenhar a máquina. Tretas. Não sabemos nada dele.
Então por que o trago aqui? Pela reacção que nos provoca, a nós, pessoal de terra, um suicídio tão original mas ao mesmo tempo com elementos tão comuns.
Não quis arrastar ninguém, ao contrário destes, não acusou ninguém, não mudou de ideias numa hora de conversa com o pessoal de terra. Suavidade sim, mas também aquilo que existe em todos os suicídios: um incrível momento de solidão. Não existe nada, mesmo nada, mais solitário do que esse último instante . Tanto assim que nada sabemos dele.
Comments
Post a Comment