Podemos estar a assistir à degradação dos valores. Como sabemos, estavam preservadíssimos na tal Lisboa que HG imagina. Por exemplo, na do Hintze Ribeiro, o homem que não ria, que, recordava o Correio Nacional em Novembro de 1918, antes de se demitir nomeou dois cunhados, um sobrinho e um irmão para os Impostos e Alfândegas. Acabou coberto de condecorações. Damos um saltinho temporal e umas voltas de submarinos e submergimos encantados com histórias de probidade e serviço público do mais alto coturno.
Quando acabamos de ler um texto que termina concluindo da possível degradação de valores, sabemos ao que vamos. Dos homens de ouro aos de ferro, a rampa está sempre a ser levantada.
O que HG dá voz, no seu texto, é à impotência e isso é aceitável. É evidente que, com PCP e Bloco no banco da equipa governamental, o protesto de rua é finito.Tudo o que é mau veio do Passos ou, em alternativa, vem da UE. Em troca sobrevivem: a política é isto, tal como foi quando Passos Coelho, para ganhar as eleições, prometeu não cortar um tostão em salários e pensões. Incomoda a coesão dos parceiros de esquerda? É natural se nos lembrarmos das birras irrevogáveis de Paulo Portas. As coisas são o que são.
Outro osso é saber como derrotar esta plataforma de entendimento, como Jerónimo de Sousa tão bem a caracteriza. Melhor dizendo, saber por que se há-de querer derrotá-la. Um exemplo: quinze mil milhões de receitas turísticas no ano passado. Este é um governo bem liberal quando tem de ser, porque só os sonsos acreditam que tal motor é propulsionado com outro fuel que não o odiado trabalho precário. Irrita a hipocrisia? Não, porque Bloco, PCP e ex-socráticos continuam a lavrar protestos e denúncias da situação, arrumando-os depois em pastas coloridas.
O que HG podia ter dito, em vez das patetices da degradação dos valores, é que é necessário saber esperar. Depois das próximas legislativas, acaba-se a mama da culpa do anterior governo e do alforge da troika. Nessa altura talvez apareça um partido com a cabeça arrumada, sem medo perder eleições nem de ser chamado de fascista, que queira discutir coisas sérias como o ainda incrivel peso do aparelho estatal, o envelhecimento, a saúde da SS etc. Talvez.
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