O estacionamento do Supercor está quase sempre vazio quando chego ( um ou duas viaturas de funcionários). Quando acabo as compras tem no máximo mais quatro ou cinco carros, dispersos como moitas. Ora bem, em três ocasiões tentei entrar num carro que não era o meu ( mas igualzinho) .
Primeira explicação lógica: cabeça no ar. Sou, sem dúvida, mas não serve nesta situação específica: nunca me aconteceu. Depois, naturalização: compreende-se, dois carros iguais lado a lado. Também não serve: à uma, porque, como qualquer pessoa, acciono à distância o comando ( barulhinho, piscas etc) e nem sempre os carros estavam juntinhos; depois, porque existe uma coisa essencial na atribuição causal: a consistência temporal. Explico: depois de fazer figura de urso uma vez, faço uma segunda e ainda uma terceira ( e esta foi espectatular, já conto) ? Não.
Quero chegar a isto: existem comportamentos inexplicáveis. A psicologia, ok, uma parte dela, especializou-se na taxonomia do que Barthes chamava o fait divers, o caso do dia. Tudo tem uma explicação assente em mil teorias, as mais das vezes contraditórias. Um exemplo: quando trabalhei em toxicodependência, um puto era adicto porque cresceu num meio pobre, outro era drogado porque nasceu numa família rica que o mimou. Nos casos do dia é a mesma coisa.
Tudo tem é um fim. A tal terceira confusão de automóveis foi assim: dirijo-me ao que julgo ser o meu carro e, a uns três metros, vejo que tem as luzes de cortesia acesas; a um metro, bispo um gajo sentado no meu lugar. Abro a porta e solto que é esta merda, pá ? O desgraçado deu um salto no banco. Foi acabrunhante e fiquei , explicavelmente, curado.
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