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A ala fascista do feminismo segundo Sontag

Beauvoir ( O Segundo Sexo, vol1) abre com uma certeza: o debate sobre o feminismo está mais ou menos encerrado. Estávamos em 1949.


Uns anitos  depois ( 1975) , Sontag escrevia em resposta a um artigo Adrienne Rich:  Like all capital moral truths, feminism is a bit simple-minded. That is its power and, as the language of Rich’s letter shows, that is its limitation. O que estava em causa era a crítica de Sontag à reabilitação de Leni Riefensthal, apenas por ser mulher, citando exemplos de promoções em festivais de cinema, debates etc.


A limitação intelectual,  o funil a galope, é bem explicada por Sontag nesta outra análise. Como definir os limites do heteropatriarcado?

Suppose, indeed, that “Nazi Germany was patriarchy in its purest, most elemental form.” Where do we rate the Kaiser’s Germany? Caesarist Rome? Confucian China? Fascist Italy? Victorian England? Ms. Gandhi’s India? Macho Latin America? Arab sheikery from Mohammed to Qaddhafi and Faisal? Most of history, alas, is “patriarchal history.".

A Federação das Mulheres foi desmantelada em 1966 ( Gender in Modern East Asia, Barbara Molony et al), todo o feminismo considerado burguês, as  Guardas da Revolução eram mulheres chinesas masculinizadas. Muita razão tem Sontag.



 A parte do feminismo que Sontag rejeita é a essencialista, a que exerce o  poder de nomear e definir. Daí a sua  representação moral absoluta. Brutal é a conclusão -  o desprezo pela pluralidade  das  reivindicações morais é também uma das raízes do fascismo:

 "One imagined Sontag not to dissociate herself from feminism,” Rich observes. Right. But I do dissociate myself from that wing of feminism that promotes the rancid and dangerous antithesis between mind (“intellectual exercise”) and emotion (“felt reality”). For precisely this kind of banal disparagement of the normative virtues of the intellect (its acknowledgement of the inevitable plurality of moral claims; the rights it accords, alongside passion, to tentativeness and detachment) is also one of the roots of fascism—what I was trying to expose in my argument about Riefenstahl.

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