Já ouvi centenas de justificações para divórcios. Todas excelentes, nenhuma dúvida. Recordo uma, transmitida pela mulher, jovem, com uma bebé de um ano: Ele está sempre a ver programas de que eu não gosto e não me deixa ter o comando. É uma boa causa. Tirassem-me a Benfica TV e haviam de ver em quanto tempo alugava um T2.
Há uma, no entanto, que nunca ouvi: o sexo é mau. E é notável, porque o que distingue um casal de um par de amigos ou de irmãos que vivem juntos é o sexo.
Quando falo de sexo falo de tudo: provocação, aggiornamento, evolução, privacidade. As pessoas, sem dar conta, vão perdendo a zona vermelha: dos cheiros, risos, pele, excitação. Isto faz com que o casal constitua a comissão política exclusivamente sobre a intendência: contas do gás, crianças, microondas avariado etc. Serão assuntos importantes, acredito, mas enredados numa lógica cooperativa semelhante à da vida profissional ou do condomínio.
O quarto ( ou equivalente) é o espaço conspirativo que ignora a lógica cooperativa. O que lá se faz não paga contas nem garante boas notas ao filho cábula. O que lá se faz é anterior a tudo o que se faz depois. O abandono da subversão sexual é tão brutal que os casais nem se lembram dela na altura de justificar a secessão.
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