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No limite nem existe governo

Exceptuando a devolução de rendimentos e a reversão de algumas medidas do governo anterior ( e muitas estão em águas  de bacalhau), o que temos de três anos de governo? Anúncios, imensos, é verdade, e estagnação. O bacalhau ao menos muda de águas de vez em quando.
Um contexto favorável ( juros baixos) e um turismo pletórico com imenso emprego precário directo  e indirecto, aumento do consumo privado com o óbvio aumento do crédito ao consumo, divída pública sempre a abrir.  Coisas boas e más, mas accção governativa, coisas feitas pelo governo, nicles. A barriga serve para empurrar.

Não podia ser  de outra forma.  PCP e Bloco  nunca apoiariam  um governo reformista, porque são, essencialmente, advogados do sector publico. E o sector público precisa de representação porque é pobre e mal pago. Também eu preferia trabalhar na  cozinha de um restaurante  ( onde não faria má figura), e sei exactamente o que me esperava, a ser professor numa secundária, ou polícia,  mesmo com o dobro do salário.
O problema é que o sector público, basta conhecer bem a relação entre a pequena autarquia e  a vila, é o alicerce da empregabilidade não-flutuante.

A gente vai levando, como cantava o Chico Buarque, e ninguém arrisca um milímetro  enquanto o equilíbrio se mantiver. O PS sabe que as macas nos corredores, os professores  e  enfermeiros descontentes, os impostos da gasolina ou os comboios  enferrujados não são suficientes para causar um terramoto. E não são porque são tantos e variados que há sempre a possibilidade de ir dando aqui e tirando acoli, sem  que uma superestrutura aglomere a representação de tantos sectores e campos socio-políticos distintos. Para mais,  a vocalização do protesto , outrora poderosa, do PCP e BE é agora uma coreografia articulada. É para isso que a equipa de Pedro Nuno Santos trabalha. 

Com um CDS irrelevante, entretido a captar a indignação do dia, e um PSD paranóico em autofagia, no limite nem precisa de haver governo.

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