Alguns leitores disto estão, ou estiveram, em terapia comigo e reconhecerão a coisa: arquivar. Utilizo este termo quando a pessoa necessita de aprender a viver com uma má memória ( das más mesmo).
No número anterior falei da teoria do Ferenczi: deprimos porque recordamos a repressão de impulsos associados a determinado acontecimento. Não chega: por vezes é mesmo a mágoa e a dor, simples.
Para conseguir arquivar precisamos de conceder à má memória um lugar respeitável. Pode ser uma morte, uma ofensa, um amor roubado, a coisa tem é de ter direito a coexistir com o resto da maralha. Ora, isto briga com a tendência natural de querer esquecer...
Arquivar significa então reconhecer a impotência diante do passado. Arrumamos as más memórias numa prateleira poeirenta porque elas fazem parte da mobília.
Significa, num campo mais vasto, aceitar que a vida é um caminho para a derrota final e inexorável. E é um caminho radioso porque há várias metas-volantes deliciosas que só podemos apreciar se lhes dermos o devido valor. O valor da excepção.
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